O dia em que o micro-ondas me humilhou
Acordei otimista. O sol entrava pela janela, o café estava pronto, e pela
primeira vez em semanas eu tinha decidido que iria comer algo saudável. Peguei a tigela de aveia, fatiei uma banana
(com a destreza de um chef de reality show) e coloquei tudo no micro-ondas para
“dar uma aquecidinha”.
Dois minutos. Só dois minutos.
Foi o suficiente para o inferno começar.
O micro-ondas começou a chiar.
Depois a girar como se tivesse incorporado o espírito de um motor de avião.
E, em seguida — um PÁ! ensurdecedor.
Corri. Abri a porta. E fui recepcionado por uma
explosão de papas de aveia espalhadas no teto, na parede, na minha camisa e, de
algum modo misterioso, dentro da minha sandália.
O pior não foi a sujeira. Foi o cheiro: parecia
uma mistura entre infância mal resolvida e derrota adulta.
Enquanto eu limpava o campo de guerra, o gato
me observava do sofá, com aquele olhar típico de quem está pensando: “Esse é o ser racional da casa?”
Mas ainda havia esperança.
Lavei tudo, respirei fundo, e decidi refazer o café da manhã.
Dessa vez, só pão e manteiga. Nada poderia dar errado.
Coloquei o pão na torradeira.
E recebi um choque.
Pequeno, mas suficiente para eu dançar um samba elétrico involuntário.
Minha mãe, do outro lado da linha (sim, eu estava no viva-voz), só disse:
— Menino, você precisa ir pra igreja.
Decidi encerrar a manhã ali.
Afinal, talvez o universo estivesse apenas me dizendo:
“Não é um dia para carboidratos.”
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