Lendo Políticas do Encanto, de Paolo Demuru
Quando abri Políticas do Encanto , de Paolo Demuru, tive a sensação de estar entrando num território que mistura filosofia, semiótica e política, mas sempre atravessado pela vida concreta. O livro não é um tratado distante: é uma provocação. Ele me colocou diante de uma pergunta incômoda — como é que nos deixamos seduzir, hoje, por imagens, discursos e afetos que, em vez de emancipar, muitas vezes nos aprisionam? O termo “encanto”, que Demuru utiliza, não se refere apenas à beleza ou ao fascínio superficial. Ele fala de algo mais profundo: a capacidade de certos discursos e práticas de mobilizar afetos, desejos, sonhos coletivos. A política, para ele, não se resume a projetos de governo, mas a modos de encantar corpos e mentes, de capturar nossa atenção, de convocar identidades. E esse “encantamento” pode ser emancipador, mas também pode ser manipulação. Ao ler, pensei muito no Brasil recente. Como foi possível que a extrema direita, em tão pouco tempo, mobilizasse multidões ...