Fomos abandonados à própria sorte: a condução trágica do Estado brasileiro na pandemia
Nunca vou esquecer o silêncio. Aquele silêncio das ruas vazias, das UTIs lotadas, das covas abertas em série. Um silêncio que não era paz — era abandono. E nesse silêncio, ficou claro o que muitos de nós já sabíamos, mas ainda recusávamos a ver: o Estado brasileiro falhou conosco. Falo como cidadão, como alguém que perdeu amigos, familiares(meu pai) e certezas. Não foi só um vírus que matou mais de 700 mil brasileiros — foi a irresponsabilidade, o negacionismo e o desmonte deliberado das estruturas públicas de cuidado. Enquanto os números subiam, o governo fazia piada. Enquanto profissionais de saúde adoeciam de exaustão, o presidente promovia aglomerações. Enquanto os cientistas alertavam, os gestores hesitavam — ou pior: mentiam. O negacionismo institucionalizado Ver o chefe de Estado brasileiro desencorajar o uso de máscaras, sabotar vacinas, desacreditar médicos e defender “tratamentos precoces” sem evidência científica foi, para mim, um dos capítulos mais...