Eduardo Bolsonaro e a Ala Neofascista que se Afasta da Faria Lima
Escrevo
este texto porque não quero me esconder
atrás de análises frias ou acadêmicas demais. Falo como alguém que observa, com
desconforto e inquietação, os rumos da política brasileira. Para mim, Eduardo
Bolsonaro representa algo que vai além de um simples deputado: ele é a face
visível de uma ala que radicaliza o neofascismo e, nesse processo, se distancia
daquilo que poderíamos chamar de “racionalidade capitalista da Faria Lima”.
A Faria
Lima, com todo o seu universo de fundos de investimento, empresários e lobistas
engravatados, nunca foi exatamente democrática — mas sempre operou dentro de
uma lógica pragmática, de cálculo e manutenção do sistema. O que Eduardo
encarna é diferente: um discurso incendiário, voltado para mobilizar afetos
violentos, ressentimentos e a criação de inimigos internos. Se a Faria Lima
quer previsibilidade, Eduardo aposta no caos.
Observo
com clareza esse afastamento. De um lado, banqueiros e empresários pressionam
por estabilidade fiscal e respeito a regras mínimas de mercado. De outro, a ala
neofascista, alimentada por Eduardo e seus aliados, aposta na polarização
total, na erosão das instituições e na ideia de que só uma ruptura radical pode
“salvar o Brasil”. É como se houvesse dois projetos concorrentes dentro da
própria direita: o da conservação econômica e o da destruição autoritária.
Não me
engano: ambos são perigosos. Mas há uma diferença. Enquanto a Faria Lima
depende da democracia liberal para continuar lucrando, Eduardo parece sonhar
com outro modelo, um Estado iliberal, armado, e que se legitime pelo medo. Esse
radicalismo, que ecoa experiências de Trump nos EUA e de Vox na Espanha, ganha
espaço em redes sociais, igrejas e grupos armamentistas, mas assusta a elite
financeira, que prefere Bolsonaro pai domesticado à fúria messiânica do filho.
Eu vejo
esse movimento como um sintoma de algo maior: o neofascismo brasileiro já não
cabe apenas no pacto com a elite econômica. Ele cria sua própria base, mais
plebeia, mais ressentida e mais radicalizada. É nesse ponto que Eduardo
Bolsonaro se torna figura-chave: ele traduz para essa base um projeto de poder
que não precisa mais da Faria Lima como avalista.
E aqui
está o meu medo: o rompimento com a racionalidade empresarial pode significar
um mergulho ainda mais profundo no abismo autoritário. O Brasil, país de
fraturas históricas, pode virar palco de uma extrema-direita que não negocia,
que não aceita mediações, que prefere incendiar a ordem a garantir o lucro.
Eduardo Bolsonaro não é apenas um herdeiro do bolsonarismo, ele é o arauto de
sua forma mais selvagem.
Sugestões de leitura para aprofundar o
tema:
- Federico Finchelstein – Do
Fascismo ao Populismo na História
- Jason Stanley – Como
Funciona o Fascismo
- Esther Solano – O ódio
como política
- Jessé Souza – A elite do
atraso
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