A volta ao mundo em 80 dias de Isadora e Marina
Isadora ajustou os óculos diante do painel de controle. As telas flutuavam em neon azul, projetando mapas de constelações que giravam como engrenagens de um relógio cósmico. Marina, com a câmera presa ao pescoço, olhava fascinada o motor quântico que pulsava no centro da sala, como um coração metálico prestes a explodir.
— Então é isso? — perguntou Isadora, com a voz oscilando entre medo e excitação. — Vamos mesmo dar a volta ao mundo em oitenta dias?
Marina sorriu, os olhos refletindo as luzes da máquina.
— Não só ao mundo. Talvez às suas camadas secretas.
O veículo não era avião nem navio. Era um orbivagão, invenção clandestina de cientistas anônimos, capaz de deslizar pelas dobras do espaço-tempo. Em cada salto, atravessava não apenas cidades, mas épocas.
No décimo dia, aterrissaram numa Tóquio de 2080, onde árvores bioluminescentes iluminavam as ruas e drones entregavam sonhos em cápsulas transparentes.
No trigésimo quinto, exploraram um Saara transformado em usina solar interminável, espelhos refletindo o sol como se o deserto inteiro fosse feito de fogo líquido.
No quinquagésimo, pairaram sobre uma Fortaleza do futuro, onde jangadas levitavam sobre a água e o vento do Mucuripe alimentava turbinas suspensas no céu.
Isadora, a professora que nunca tinha deixado o bairro, agora discutia filosofia com hologramas gregos em Atenas; Marina registrava em sua câmera imagens que talvez ninguém acreditasse. Mas o mais surpreendente não era o avanço tecnológico. Era o modo como, em cada salto, o tempo parecia dobrar suas próprias emoções: medo e alegria, euforia e silêncio, tudo misturado como partículas subatômicas em colisão.
No octogésimo dia, estacionaram o orbivagão no topo de uma cordilheira suspensa sobre a Antártica. O gelo brilhava como vidro sob auroras dançantes. As duas sabiam que a jornada chegava ao fim. Isadora respirou fundo, olhando o horizonte:
— Viajei por mundos que nem sabia existir. Mas a maior descoberta foi… você.
Marina abaixou a câmera. Pela primeira vez em toda a viagem, não quis registrar nada. Apenas aproximou-se, e as duas se beijaram sob o céu pulsante de cores, como se todo o universo tivesse conspirado para aquele instante.
A volta ao mundo em oitenta dias estava completa. Mas a viagem entre elas apenas começava.
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