Explor(ar): quando a música abre caminhos dentro de nós

 

Hoje à noite, no CCBNB Fortaleza, vivi uma daquelas experiências que me lembram por que a arte ainda é o que nos salva da rotina: o show “Explor(ar)”, da cantora e compositora Luh Lívia.
Confesso — não a conhecia, nem tampouco a banda Siavesh, que participou da apresentação. Fui movido pela curiosidade, pelo desejo de descobrir algo novo. E encontrei mais do que esperava: encontrei um som que parecia costurar mundos.

Desde os primeiros acordes, percebi que “Explor(ar)” não era apenas o título do show — era um chamado à travessia.
Luh Lívia apareceu em cena com uma presença suave e intensa ao mesmo tempo, guiando o público por um território sonoro que misturava rock, MPB, nuances orquestrais e atmosferas eletrônicas.
Tudo parecia dialogar: o baixo pulsante, os sintetizadores flutuando, as guitarras criando textura, a voz dela — firme, mas com uma vulnerabilidade bonita, como quem canta e escuta ao mesmo tempo.

 

A alquimia dos encontros

O show ganhou ainda mais corpo com as participações especiais: a banda Siavesh, Yayá Vilas Boas, Vini Vilas Boas e Marcelo, da banda Renegados.
Foi impressionante ver como cada participação parecia abrir uma nova camada do espetáculo.
Siavesh trouxe uma energia quase ritualística, com timbres que beiravam o psicodélico.
Yayá e Vini criaram harmonias vocais que soavam como conversa entre mares — e quando Marcelo entrou, o peso do rock encontrou o balanço orgânico da MPB de forma natural, sem conflito.

A música se tornava um organismo vivo, em constante mutação.
Era como se todos no palco estivessem de fato explorando — não apenas tocando, mas descobrindo juntos o que a música ainda podia ser.

 

Entre o analógico e o sonho

O que mais me encantou foi a forma como Luh Lívia parece equilibrar força e contemplação.
Em alguns momentos, o show era pura energia — bateria e guitarra em plena ebulição —; em outros, um silêncio delicado tomava conta do espaço, e bastava a voz dela para que tudo se refizesse.
A fusão entre elementos orquestrais e eletrônicos criava uma paisagem sonora que me lembrava o mar de Fortaleza ao entardecer: denso, mas sempre em movimento.

Havia também algo de espiritual no espetáculo, embora sem pretensão religiosa — uma busca pela presença, pelo instante, pelo som que vibra antes de se transformar em palavra.

 

O público e o sentido do “explorar”

O público respondeu com atenção rara.
Ninguém parecia querer apenas “assistir”; havia um clima de partilha, como se todos estivéssemos dentro da mesma viagem.
Senti que “Explor(ar)” fala, no fundo, sobre abrir-se para o desconhecido, sobre permitir-se ser atravessado pelo novo.
É o tipo de show que convida a deixar o controle — e apenas sentir.

Saí do CCBNB com a sensação de ter vivido algo honesto, criativo e afetivo.
Luh Lívia me lembrou que explorar não é fugir de onde estamos, mas aprofundar o que somos.
E que a música, quando nasce de verdade, faz exatamente isso: atravessa o som e chega até o humano.

 

Epílogo: o novo que nos habita

Enquanto voltava pra casa, pensei em como a cena musical cearense tem sido capaz de se reinventar.
A fusão entre o experimental e o popular, entre o orgânico e o eletrônico, mostra que há uma nova geração de artistas que não teme misturar — que entende que o novo não é ruptura, mas diálogo.
E Luh Lívia, com seu “Explor(ar)”, mostrou isso com uma maturidade impressionante.

Hoje descobri uma artista e um grupo de músicos que ousam — e, ao ousar, nos lembram que a arte é o espaço onde o desconhecido vira comunhão.
Explorar, afinal, é um verbo que só faz sentido quando o fazemos juntos.

 

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